Jornal Desafio
DESTAQUE » NAVEGAR NAS POSSIBILIDADES
LINHA DE PASSE

NAVEGAR NAS POSSIBILIDADES

Um dia, o técnico italiano Arrigo Sacchi disse que “o futebol é a coisa mais importante das menos importantes”. Na verdade, o futebol,mesmo movendo paixões, entusiasmo, alegrando ou entristecendo, não pode ser mais importante que a saúde, trabalho e até mesmo que a sua família. Mas, ainda assim, o futebol é futebol e tem um espaço enorme na vida de muita gente.  

Em qualquer ponto do globo terrestre, o futebol tem o poder de mexer com uma percentagem considerável de pessoas. Sejam elas as mais carenciadas ou as mais abastadas e mesmo entre aquelas que colocam a modalidade em segundo plano encontramperíodos de concentração, por ter-se tornado numa das maiores indústrias do mundo. Tem um grande condão de gerar dinheiro, que, por sua vez, sustenta famílias, assim como enriquece pessoas.

Numa conversa que parecia não ter sentido, alguém disse que a população mais carenciada gosta de futebol porque, se calhar, é mais fácil interpretar. Quase todos percebem tudo sobre o futebol, cada um à sua maneira.

É difícil de quantificar, mas é fácil perceber que o futebol tem um grande sentido, tanto nos países em desenvolvimento na modalidade, assim como naqueles que já conquistaram títulos mundiais. 

Nota-se nesse capítulo países onde o futebol é um modo de estar; uma cultura, onde nascem e se produzem cada vez mais individualidades para essa indústria, onde estão também posicionados países com sinais extremos de pobreza. O Brasil é um exemplo disso. Em África pode-se falar da Nigéria, Gana, Costa do Marfim, Camarões ou mesmo Senegal, com sérios problemas económicos, mas, no entanto, tornaram-se referências no mundo, pelas selecções ou pelos jogadores que deles nascem.

Moçambique há indicadores de que poucos consomem o futebol doméstico (campos vazios e aparente desinteresse). Reforça-se, cada vez mais, a teoria de que a qualidade técnico-táctica, o lado estrutural, ou seja lá o que querem dizer, são factores que fragilizam a indústria. Mas, ainda assim, o futebol é uma das maiores paixões desta pérola do Índico. Indo ou não ao campo, refilando por isto ou aquilo, as pessoas dão muito do seu tempo para discutir o futebol cá do sítio, incluindo aqueles que pela sua faixa etária já vivenciaram os melhores momentos do seu Maxaquene e Desportivo, clubes centenários, com muitas glórias reflectidas em suas vitrinas, mas hoje a desfilar na “segundona”.

Portanto, o futebol é um assunto sério, mexecom muitos seres vivos, com os seus comportamentos, gera discussões diversas, cria alegria, semeia receios, discórdias, e não se deve brincar com ele. 

Pelo que não se pode gerir o futebol de ânimo leve. Não se deve privar o povo de consumi-lo, não obstante as incertezas do dia-a-dia, baseando-se em possibilidades.

O povo quer futebol, quer festa, mesmo que não haja requinte. O povo quer ter futebol semanalmente, discuti-lo todos os dias, e não se pode coarctar essa possibilidade, nunca, sobo risco de frustrá-lo e matar os seus prazeres. 

Por conseguinte, a Liga Moçambicana de Futebol deve deixar de navegar nas possibilidades e buscar formas mais profissionais de gerir as suas actividades para dar garantias, e não incertezas.

Tanto que para quem prefere a disputa clássica de Campeonato Nacional de todos contra todos, em duas voltas, com recurso a transporte aéreo, só pode ser dentro dascapacidades garantidas.

Moçambique não é Portugal. O nosso país engole o país lusitano várias vezes e por ser demasiadamente extenso em relação a vários países do primeiro mundo do futebol, não se pode brincar de comparações. Até o Brasil, sejamos humildes, excepcionalmente superior a nós, não arrisca fazer um campeonato nesses moldes. Mas é competitivo, mais abrangente, é vivido euforicamente em toda a sua extensão.

Precisamos de ser racionais e inteligentes para perceber que estamos a matar os clubes de menor capacidade financeira com viagens que lhes tiram o pouco que “produzem” para a logística. “Vamos cair na real”.  

É preciso perceber que dessa forma o futeboldestrói, porque nos obriga a viver acima das nossas capacidades, quando o país tem outras prioridades, até muita acima do futebol.

Os sinais são demasiadamente evidentes para que, futuramente, não se volte a cometer os mesmos erros.  

Artigos relacionados:

Carregando....
Foi fundado no dia 24 de Junho de 1987 como presente da Sociedade do Notícias aos desportistas por ocasião dos 12 anos de Independência Nacional, que se assinalaram nesse mesmo ano.