Moçambique volta a jogar diante do Uganda, em Kampala, 38 anos depois. Será a quarta vez que estas duas selecções vão jogar entre si, lembrando que recentemente os “Mambas” derrotaram o seu adversário do próximo dia 5 de Setembro, por 3-1, em Março último, também para a campanha de qualificação para o “Mundial”-2026.
A primeira partida de sempre teve lugar em 1987, na qual o combinado nacional foi goleado por 4-1, em Kampala, em jogo que teve como palco o Nakivubu Stadium, contenda inserida nas eliminatórias de qualificação para os Jogos Olímpicos de Seul-88.
Na segunda mão dessa eliminatória, as duas equipas empataram a um golo, com Chiquinho Conde, já contratado pelo Belenenses de Portugal, a marcar por Moçambique no então Estádio da Machava, resultados que ditaram a eliminação do combinado nacional com um agregado de 5-2.
Refira-se que os primeiros jogos diante do Uganda ocorreram um ano depois da primeira participação de Moçambique no CAN de 1986, no Cairo, capital do Egipto, com derrotas da Selecção Nacional na fase de grupos.
Talvez tenha sido por isso que a Federação Moçambicana de Futebol (FMF) mudou o comando técnico, mantendo Abdul Abdulá, preparador-físico, e apostando em João Carlos da Conceição, em substituição de Belmiro Manaca, coadjuvado por Adelino Jorge.
O novo técnico decidiu injectar sangue novo e chamou a rapaziada que já pedia o seu espaço na equipa de todos os moçambicanos, nomeadamente Chande, Antoninho Muchanga, Antoninho Duba-Duba, Zé Augusto e Riquito, pela primeira vez, a fazer parte da equipa nacional. Era a rapaziada a despontar e com exibições de vulto.
Naquela altura, a selecção do Uganda estava num bom período, mas esse facto não assustava aos moçambicanos, por ainda contar com Nuro Americano, Ferreira, Almeida, Calton, Nico, Santinho, Chababe e Machava, que tinham estado na campanha que levou a equipa ao Egipto, e ainda com outras unidades de respeito como Elias Mabjaia, Miguel Guambe, Ricardo Sambo, Maenga, Faustino, Zacarias Osman, Abdul Mulungo, Aleixo Fumo e David, estes dois últimos alternativas a Nuro Americano na baliza.
Destacar que apesar da goleada sofrida, em que um dos mais novos fez os últimos 20 minutos, Nuro Americano, capitão da equipa, por ter feito uma grande exibição, arrancou aplausos dos colegas, adversários e do público que acorreu àquele recinto de Kampala.
Antes do jogo, Riquito pregou uma enorme partida a Adelino Jorge (já falecido). É que, na preparação da viagem a Uganda, o adjunto de João Carlos, ao saber que o jogo seria em Kampala, encheu a voz para dizer e todos ouvirem que teria mordomias quando chegasse, porque Paiva, um antigo colega de equipa seu no Textáfrica, por lá residia. Até porque, nessa altura, o “pocket-money” não passava dos três dólares por dia e com esse dinheiro era difícil pensar em comprar algo vistoso, tanto para si, como para os seus.
Riquito, que não gostou do que ouviu e, por isso, urdiu plano para tramar o técnico. Logo após a chegada, conseguiu informações sobre os restaurantes de Kampala, desde os nomes e a distância do local onde estava hospedada a delegação moçambicana.
Depois, ensaiou uma voz que confundisse Adelino Jorge. Ligou para o quarto do técnico e apresentou-se como Paiva. Adelino, embebido pela emoção, não notou a diferença na voz do outro lado da linha, que carinhosamente começou por dizer: “ora viva, Adelino, bem-vindo a Kampala! Há quanto tempo não nos vemos? Vai ser uma grande oportunidade voltar a ver-te e recordar os nossos tempos em Chimoio… encontramo-nos à hora do almoço…”.
O técnico moçambicano seguiu o endereço recebido e num táxi chegou ao restaurante indicado, bem distante, que “engolia” quase todo o “pocket-money” de Adelino Jorge, mas para rever um amigo valia qualquer sacrifício.
Ficou do lado de fora do restaurante. Passaram-se minutos e mais um longo período de espera, que o levou a se dirigir ao balcão para perguntar pelo amigo. Entretanto, nenhum dos funcionários tinha visto um indivíduo que usasse esse nome, nem das características por ele descritas.
Percebeu que estava ali a perder tempo e amaldiçoou a hora que saiu do hotel. Desanimado, deixou o restaurante e voltou ao hotel, num outro táxi, ficando sem um tostão.
A frustração era facilmente decifrável quando colocou o primeiro pé na escada da entrada do portão do hotel. Naquele instante, Riquito observava-o, num canto, como se nada tivesse feito para tramar alguém, mas engolindo a felicidade pela lição dada ao seu treinador.
Ficaram as memórias de uma viagem que Adelino nunca mais quis recordar até ao dia da sua morte. E, desta vez, há certezas de que não haverá partidas, porque Riquito está reformado. Espera-se, sim, por um conjunto mais concentrado e mentalizado que a vingança ao acontecido há 38 anos é um imperativo nacional.