Hoje, 25 de Setembro, quando se celebrar o 61.º aniversário das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, assinalar-se-á igualmente os 25 anos da maior conquista desportiva do país: a medalha de ouro olímpica conquistada por Maria de Lurdes Mutola, a mais bem-sucedida atleta moçambicana de todos os tempos.
Era tarde de segunda-feira do dia 25 de Setembro de 2000 quando o país parou literalmente. Com os olhos fixos na Televisão de Moçambique e os ouvidos colados à rádio, todos aguardavam ansiosamente pela final dos 800 metros femininos nos Jogos Olímpicos de Sydney – uma corrida que simbolizava a vingança depois da frustração quatro anos antes, em Atlanta, onde Mutola conquistou “apenas” o bronze com o tempo de 1:58.71 minuto.
Naquele 25 de Setembro, a estrela moçambicana não deixou os seus créditos em mãos alheias. Com uma performance extraordinária conquistou o ouro olímpico nos 800 metros, com o tempo de 1:56.15 minuto.
Pela primeira (e até hoje única) vez, o hino nacional de Moçambique ecoou numa cerimónia de pódio olímpico, num momento de orgulho e emoção que se sentiu no país e na diáspora.
A atleta atribui o seu sucesso na carreira não apenas ao talento e à dedicação, mas também à sorte de ter tido as pessoas “certas nos momentos certos”. Lembra sempre que se instalou em Eugene, no Estado norte-americano de Oregon, após seguir um conselho que agradece até hoje. Foi aí que começou a construir o seu legado internacional, depois de já ter conquistado África. Nesse percurso, dois nomes tornaram-se importantes para a “Menina de Ouro”: Margot e Jeff, a treinadora e o seu empresário, respectivamente.
Para Mutola, os Jogos Olímpicos de Sydney, que valeram ouro depois do bronze de 1996, foram encarados como uma missão: “Assumimos que não podíamos falhar. Dois anos antes, sentámo-nos, traçámos um plano e decidimos que eu teria de viver na Austrália para me preparar. Escolhi uma cidade pequena, longe do bulício de Sydney, para poder treinar com foco total”, lembrou na última grande entrevista concedida ao jornal Desafio.
Lurdes, que queria ser futebolista, tinha quase tudo para ser uma das moçambicanas mais felizes pelo que conquistou no desporto. Nascida num país pobre, conseguiu êxitos desportivos que não estão ao alcance de muitas nações ricas. Porém, para a plena felicidade precisa de sentir que há continuidade e que o país segue com atletas de carreira internacional.
É que desde a retirada da atleta apenas exibições do boxe, nos Jogos Olímpicos, fizeram o país sonhar. “É triste para mim, porque acredito que Moçambique tem mais. Não acredito que eu seja a única que nasceu para ganhar medalhas olímpicas. Estou feliz por aquilo que fiz, mas triste por não sentir que haja continuidade”.
Ao longo dos 17 anos de carreira ao mais alto nível há dois locais marcantes para Mutola: Zurique “foi onde ganhei tantas provas consecutivas, razão pela qual escolhi aquela cidade para a minha despedida no ‘meeting da Golden League’ (29 de Agosto de 2008). E Oregon, onde vivia, também sou uma lenda, porque ganhei 16 provas consecutivas e sendo uma cidade pequena o reconhecimento é maior”.
Depois de abandonar as pistas em 2008, Mutola voltou à sua paixão de infância: o futebol. Jogou pelo Mamelodi Sundowns, na África do Sul, e também pela selecção moçambicana nos Jogos Africanos de 2011.
“Terminar no futebol foi importante para mim. Não estava planeado, mas depois de ter jogado na África do Sul, tornou-se natural vestir também a camisola da selecção. Jogar por Moçambique era mais simbólico, mas não podia desperdiçar aquela oportunidade.”