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Foto: Celso Macassa. O Dr. Prista era um antifascista assumido perseguido pela PIDE.
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DR. PRISTA, UMA VIDA DEDICADA ÀS CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

O nosso personagem de hoje é um gigante das Ciências do Desporto de Moçambique. Entre outros títulos, fez Pós-graduação em Desenvolvimento Motor e Fisiologia do Exercício na Universidade de São Paulo. O seu saber tem impacto na actividade desportiva do país e não só. Chama-se António Manuel Machado Prista e Silva, mais conhecido por Dr. Prista. É filho de Domingos Prista e Silva e de Maria Filomena Melo Machado Prista e Silva. Nasceu a 3 de Julho de 1957 numa família de seis irmãos, a saber João, Maria Leonor, Clara, Maria Helena. O Dr. Prista é o quinto da lista e, por último, nasceu Carlos.

Enquanto falávamos da família, o nosso entrevistado surpreende-nos com um dado curioso. “A minha avó materna, Teresa, teve 12 filhos, 35 netos e 66 bisnetos e morreu no dia em que completava 100 anos. Tem descendentes no mundo inteiro”, diz, com gozo e muito orgulho.

Prista nasceu em Coimbra, Portugal, mas saiu de lá com apenas oito anos. O seu pai, bancário de profissão, emigrou para Luanda, Angola, com toda a família. Em terras da “Palanca” ficaram dois anos. Quando Prista tinha apenas 10 anos, o pai migra de novo com a família, desta feita para Moçambique.

É verdade que se fez desportista de referência em Moçambique, mas o projecto de homem de desporto começa a desenhar-se na infância, em Coimbra. “Vivi num prédio de três andares e na zona havia cerca de trinta crianças. Normalmente praticávamos hóquei e futebol. Lembro-me que fazíamos campeonatos de cinco contra cinco”, conta Prista, que, rendido ao peso da idade, graceja: “hoje não jogaria nem um contra um!”.

Mas no leque das actividades desportivas, experimentava outras variantes. Era ecléctico, digamos. “Olha que aos seis anos já praticava judo, embora fosse mais apaixonado pelo futebol. Na zona só se falava do Benfica, Sporting e Académica. Em Luanda continuei a praticar futebol e judo, até o meu pai mudar de profissão e trazer-nos para Maputo, na altura Lourenço Marques. Portanto, o desporto faz parte de mim desde criança”.

ANTI-FASCISTA

E PAI PRECOCE

A mudança para Moçambique viria a definir o perfil desde profissional de Educação Física e Desporto. Aqui estudou e na formação da sua personalidade começou a evidenciar muito cedo alguma rebeldia, tendo, inclusive, se revoltado contra o sistema colonial. Transformou-se num jovem engajado com os ideais da revolução e, por isso, perseguido pela PIDE (Polícia de Investigação de Defesa do Estado), o que culminou com a sua expulsão do Liceu Salazar (Josina Machel).

“Os meus estudos começaram no Liceu Salazar (Escola Secundária Josina Machel). Fiz parte da equipa da natação da escola. Lembro-me que a piscina era muito gelada e o professor Prata Dias obrigava-nos a entrar na água com uma vara. Participei em muitas provas na piscina dos Velhos Colonos (Associação de Natação da Cidade de Maputo)”.

A par dos estudos, praticou hóquei nos juniores do Ferroviário, natação na escola, era futebolista do FC Bola no Pé, do bairro da Coop, basquetebolista da Académica e da Real Sociedade e voleibolista, mas foi na vela que quase se sentia “peixe na água”. “Posso dizer que as modalidades que pratiquei com mais gosto e regularidade foram o basquetebol e a vela no Clube Marítimo de Desportos”.

O Dr. Prista não tinha atingido a maioridade, mas quis o destino que em 1973 fosse pai precoce, com 16 anos. Teve de frequentar um curso técnico rápido que lhe pudesse dar emprego. “Nessa altura era atleta da Real Sociedade e o meu treinador era o professor Hermínio Barreto, na altura director da Escola de Educação Física. Ele sugeriu-me que entrasse na Escola de Instrutores de Educação Física de Lourenço Marques, onde tirei o curso médio, que me habilitava a dar aulas de Educação Física”.

Era o que mais precisava para ajudar nas despesas da esposa e da filha, hoje a caminho dos 52 anos. “Eu já tinha trabalhado como barman num Mini-Café que se situava no Ministério do Interior, mas fui expulso porque ali andavam muitos PIDE e fui vítima das minhas bocas. Tive de me virar e vendi cursos de inglês em disco nas ruas da cidade. Também fui corrector de serra, na Secretaria do Estado do Planeamento. Aqui também fui vítima da minha rebeldia e correram comigo”.

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Foi fundado no dia 24 de Junho de 1987 como presente da Sociedade do Notícias aos desportistas por ocasião dos 12 anos de Independência Nacional, que se assinalaram nesse mesmo ano.