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Edifício-sede do Clube da Namaacha, que funcionou como Academia no âmibto do acordo rubricado com a FMF em 2001.
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REPORTAGEM

DESPACHO FAVORÁVEL À FMF AGRAVA CONFLITO

Um novo acórdão do Tribunal Distrital da Namaacha, que condena três principais integrantes do grupo formado por pessoas que se designam legítimos donos (antigos sócios) do Clube da Namaacha a abandonarem as instalações onde funcionou a Academia Mário Esteves Coluna, numa disputa de propriedade com a Federação Moçambicana de Futebol (FMF), foi decretado na última terça-feira a favor da entidade que gere a modalidade rainha no país.

O novo despacho, que resulta de uma providência cautelar contra o trio requerida pela FMF com objectivo de reaver as instalações onde funcionou a Academia da Namaacha, condena Rafael Langa (director-exectutivo do clube), que lidera o movimeto dos antigos sócios da colectividade, José Manhiça (presidente do clube) e Estêvão Miguel a abandonar as instalações e a pagar multa ao Estado por acto de desobediência às ordens judiciais na sequência da alegada ocupação ilegal das referidas instalações.

Esta decisão vem, segundo o jurista da FMF, Zefanias Jonas, a provar mais uma vez que a instituição de que faz parte sempre foi legítima proprietária das instalações, que no seu entender já não pertencem ao Clube da Namaacha, ou seja, reverteram ao Estado por decreto 5/76 de 5 de Fevereiro, que nacionalizou o património imobiliário (edifícios e prédios) depois da Independência do regime colonial.

Embora o decreto não incluísse o desporto, por não ser uma actividade com fins lucrativos ou comerciais, as instalações do Clube da Namaacha acabaram mesmo assim revertendo, segundo a fonte, ao Estado porque foram durante o tempo colonial alvos de penhora, ou seja, a colectividade realizou um contrato de mútuo que culminou com a hipoteca do imóvel a favor da Caixa Económica Postal da Colónia de Moçambique.

Uma vez que o Clube da Namaacha não conseguiu resolver o problema de penhora, as instalações do clube ficaram de acordo com a explicação de Zefanias Jonas com aquela entidade de cunho financeiro até à proclamação da Independência Nacional. E é aqui onde acabaram revertendo também a favor do Estado e por via do despacho conjunto de Agosto de 2006 dos Ministérios da Juventude e Desporto, Obras Públicas e Finanças foi passada a sua propriedade ou gestão à FMF, que assim as regularizou e obteve o respectivo título.

DOCUMENTAÇÃO NÃO ELIMINA  

ZONAS DE PENUMBRA NO PROCESSO

Zefanias Jonas exibiu toda documentação legal, entre despachos interministerial, dos Tribunais Administrativo da Província de Maputo e Judicial do Distrito de Namaacha, a Certidão que confere o título de propriedade do edifício/instalações à FMF. Contudo, não foi capaz de responder a uma questão de relevo sobre se ao celebrar o contrato para a criação ou implantação da Academia da Namaacha, em Abril de 2001, no âmbito do Projecto Golo da FIFA para promover o melhor aproveitamento das instalações e a formação de atletas, não estaria a FMF a reconhecer a existência da colectividade. Aliás, o contrato celebrado na altura pelo saudoso presidente da FMF, Mário Esteves Coluna, e a direcção do Clube da Namaacha, estabelece contrapartidas que deviam beneficiar à colectividade e que no entender dos antigos sócios do Clube da Namaacha não foram cumpridas na íntegra. É exatamente aqui onde surgiu o problema que se arrasta desde que o contrato cessou numa batalha que culminou com o abandono das instalações pela FMF e a sua ocupação pelos antigos sócios, que vem gerindo as mesmas até esta parte.

Num passado não muito longínquo, ou seja, em Julho de 2020, a FMF passou a gestão das instalações onde funcionou a Academia da Namaacha, no Clube da Namaacha, ao Comité Olímpico de Moçambique (COM) para a criação do Centro de Alto-Rendimento num acordo em que a extinta Secretaria de Estado do Desporto cedeu em jeito de permuta à entidade que gere o futebol no país uma parcela no espaço adjacente ao Estádio Nacional do Zimpeto para a construção de um Centro Técnico. Mas o COM não chegou a assumir a gestão das instalações por conta do prolongamento do conflito entre a FMF e o grupo de antigos sócios do Clube da Namaacha.

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Foi fundado no dia 24 de Junho de 1987 como presente da Sociedade do Notícias aos desportistas por ocasião dos 12 anos de Independência Nacional, que se assinalaram nesse mesmo ano.