Repudiável! Esta é a palavra certa para condenar de todas as formas a inércia ou inacção das autoridades municipais de Maputo perante o surgimento, à vista de todos, de uma lixeira no espaço adjacente ao Estádio Nacional e Piscina Olímpica do Zimpeto, imponentes infra-estruturas desportivas construídas no âmbito da realização dos Jogos Africanos Maputo-2011.
O facto é que a “lixeira” ergue-se pouco a pouco ante o olhar impávido das autoridades municipais, incluindo os gestores do Mercado e Terminal do Zimpeto, criando uma imagem negativa ao redor daquelas infra-estruturas que, para além de constituírem desportivamente o orgulho nacional, são uma espécie de cartões de visita para as equipas e selecções de outros países.
Há quem diga que o Mercado do Zimpeto não devia estar no lugar onde se encontra porque a sua presença nas imediações do Estádio contrasta a lógica urbana relativamente ao tipo de infra-estruturas que deviam circundar aqueles mega-recintos desportivos, como são os casos de centros comerciais de excelência e de lazer e que tornariam o recinto mais atractivo.
Mas este dado é confrontado com uma outra realidade que, infelizmente, ainda domina a maioria da população moçambicana que vive nos centros urbanos, que é a falta de cultura urbana. Porque por si só o mercado não faria mal nenhum se estivesse bem estruturado e melhor organizado para responder positivamente às questões ambientais e de higiene que fariam dele um espaço também apetecível para os próprios utentes do Estádio e da Piscina, do público no geral, entre nacionais e estrangeiros que visitassem aquelas infra-estruturas desportivas, porque lá poderiam encontrar o que precisassem.
O certo é que as questões ambientais e de higiene, respectivamente de saneamento e recolha de resíduos sólidos no Mercado e Terminal do Zimpeto, associados ainda ao negócio informal nos arredores, constituem o maior problema e transcendem aqueles lugares afectando aquelas infra-estruturas, com maior incidência para o Estádio Nacional, cuja “lixeira” está à sua porta.
A estes aspectos junta-se outro problema que agrava ainda as condições de saneamento e de higiene, nomeadamente o recurso ao espaço adjacente do Estádio pelos utentes do mercado e passageiros que buscam transporte no Terminal do Zimpeto para necessidades menores e até maiores.
Fazem-no até ignorando ou evitando as casas de banho existentes dentro do Terminal do Zimpeto e que servem simultaneamente aos passageiros e utentes do mercado, isto porque para o seu uso paga-se um valor simbólico destinado à manutenção. Chama-se novamente aqui a questão de cultura urbana que torna o ambiente circundante ao Estádio higienicamente bastante hostil.
Antes da vedação do circuito que circunda o Estádio com muro de betão, os utentes do mercado e os passageiros usavam o recinto como atalho para chegar rapidamente aos lugares circunvizinhos, mas também para necessidades menores. Para lograrem os seus desejos violaram a vedação de rede tubarão que antes existia no limite exterior do Estádio, um dos factores que concorreram para a reprovação quase contínua num passado recente do Estádio, que ficou assim por algum tempo sem acolher jogos sob a égide da Confederação Africana de Futebol.
Com o Estádio vedado com o muro, a imundície toma agora conta do espaço exterior, concretamente na fronteira com o Mercado e Terminal do Zimpeto na zona que se estende a partir da entrada sul do recinto. Ou seja, do portão que dá acesso à Esquadra que funciona dentro do Estádio até às proximidades do campo pelado junto à pista de treinos de atletismo. Depois continua mais adiante até ao limite do Complexo do Desportivo do Zimpeto, nas proximidades da Vila Olímpica, portanto no ponto sul da Piscina do Zimpeto. É uma área descoberta, ou seja, que sem vedação está sujeita a todo tipo de violações. O caricato é que a nova “lixeira” está a nascer diante também das autoridades policiais afectos à Esquadra no interior do Estádio. Portanto, é um caso bicudo que exige esforços coordenados das autoridades municipais, dos gestores do Mercado e do Terminal do Zimpeto, da Polícia da República de Moçambique afecta à Esquadra que funciona no Estádio e do Fundo de Promoção Desportiva (FPD), gestor daquele Complexo Desportivo.
O FPD, que havia anunciado acções coordenadas com as autoridades municipais, concretamente a administração do Distrito Municipal KaMubukwana, que colocariam fim ao problema, parece ter desistido do assunto depois de apenas ter conseguido desencorajar a colocação na área invadida pelo lixo de contentores, que foram inicialmente as causas que motivaram o depósito de resíduos sólidos naquele espaço. A verdade é que mesmo depois da remoção dos contentores o problema persiste e com tom ameaçador. O lixo ocupa já uma área maior e exige outros meios, como escavadoras, para a sua remoção. Vendo o perigo, o FPD colocou uma placa nas áreas “inundadas” por lixo apenas para dizer que o espaço é seu.
É, à partida, uma mensagem que até agora não tem servido para nada aos incautos, porque o lixo se amontoa e a imundície se espalha, sendo que só uma acção contundente pode travar o problema. Outrossim, o Governo deve avançar com um projecto para vedar toda área do Complexo Desportivo do Zimpeto, se quiser proteger as infra-estruturas já existentes e conferir maior dignidade àquele património desportivo.


