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GENY: ÚNICO MOÇAMBICANO BICAMPEÃO PELO SPORTING!

É um dado adquirido que Geny Catamo, bicampeão pelo Sporting Clube de Portugal, é o único moçambicano que conseguiu essa proeza.

É também confirmado que o Sporting Clube de Portugal que disputou o campeonato da temporada de 1953/1954 e sagrou-se bicampeã não tinha nenhum jogador nascido em Moçambique no plantel, nem mesmo entre 1947 e 1949, quando também foi campeão de forma consecutiva.

O único jogador nascido no país que esteve perto de integrar o plantel de ‘53/‘54 é Mário Wilson, que depois de representar o Desportivo e Indo-Português, em Moçambique, rumou a Portugal, com 19 anos, para substituir o temível goleador Fernando Peyroteo, vencendo o campeonato de 1950/1951. Em duas temporadas de “leão ao peito”, Wilson, recorde-se, marcou 38 golos em 40 jogos. Entretanto, viria a deixar o clube “leonino” para representar a Académica até 1963, período em que se formou, em Coimbra, em Geologia.  

Destacar que, nas duas últimas temporadas que resultaram no bicampeonato, Geny foi elemento de relevo na manobra da equipa, superando as anteriores aparições no Sporting, nas quais alternou com sucessivos empréstimos.

O maior responsável dessa ascensão de Geny é, sem margem para dúvidas, Rúben Amorim, hoje treinador do Manchester United. Foi o português que descobriu características antes nunca exploradas, colocando o jogador dos “Mambas” como lateral/extremo no sistema de defesa a cinco, com três centrais e dois jogadores móveis pelas alas, também implementado por Rui Borges.

Nessa forma de jogar, Geny explorou o seu poder de drible rápido, como repentino, muitas vezes a descair para o interior (frequentemente da direita à esquerda), e a desfrutar do poder do seu forte remate para visar às balizas contrárias, sendo, por isso, um dos elementos mais determinantes na manobra ofensiva. Marcou cinco golos no campeonato, sendo que dois aos rivais FC Porto (1), a 31 de Agosto de 2024, e Benfica (1), 29 de Dezembro do ano passado. Também fez um tento na Taça de Portugal e mais um na Liga dos Campeões, frente ao Club Brugge.

No temporada passada, marcou dois golos ao Benfica, que, praticamente, salvaram as contas do título. Destaca-se, igualmente, que em várias jogadas que culminaram em golos para o maior artilheiro da Liga Portuguesa, Viktor Gyokeres, também candidato a “Bola d’ouro”, Geny foi colaborador.

Portanto, estas são, indubitavelmente, prestações que fazem de Geny um dos activos preciosos dos “leões”. É também, por isso, notável o respeito e a empatia dispensados por dirigentes, colegas de equipa e adeptos do clube, um facto que foi bastante evidente na cerimónia de homenagem aos bicampeões na Câmara Municipal de Lisboa, em que Geny passou quase todo o tempo ao lado do presidente “leonino”, Frederico Varandas, algumas vezes aos saltos e abraços, à mistura, nessa comemoração do título.

Geny Catamo é, doravante, um activo especial em Alvalade, podendo entrar somas consideráveis aos cofres do Sporting em caso de venda ou, sendo mantido no plantel, um elemento-chave para atacar o desejado “tri”, anunciado após o “bi”.  

Realçar que, antes, outros moçambicanos cruzaram o caminho de Alvalade e, mesmo não festejando o título de campeão em anos seguidos, deixaram a sua marca na história do clube.

Hilário Rosário da Conceição, agora com 85 anos, é um desses nomes. Lembrar que Hilário jogou pelo Sporting de Lourenço Marques (actual Maxaquene) antes de vestir a camisola dos “leões” de Lisboa, e três anos depois do referido bicampeonato de 1954.

O antigo defesa-esquerdo, que militou nos “magriços”, como foi tratada a selecção portuguesa no Mundial de 1966, onde também jogaram outros moçambicanos, como Mário Coluna, Vicente Lucas e Eusébio da Silva Ferreira, foi campeão pelo Sporting nas épocas de 1961/62, 1965/66 e 1969/70, outro período digno de registo do clube de Alvalade.

O avançado Carlos Adriano dos Santos, igualmente tratado por Carlitos Cadeca, passou por Alvalade de 1964 a 1969, e dois anos mais tarde após a sua chegada, outro moçambicano, Carlos Alberto Manaca Dias, transferiu-se do Sporting da Beira para o Sporting de Portugal, militando até 1974. Deixou temporariamente o clube “leonino, para onde retornou em 1978, colando um ponto final a sua ligação com os “leões” no fim da temporada.

Realçar que quando João Carlos da Conceição deixou o país foi para ingressar ao Belenenses na época de 1963/64. Na seguinte, o Sporting contratou-o, jogando até 1966, Hilário da Conceição, sagrando-se também campeão. Foi emprestado ao Leixões e voltou a Alvalade em 1967 para se vincular por mais dois anos, antes de seguir ao Barreirense, onde fez a carreira até à ponta final.

Após a independência, outros moçambicanos seguiram a Alvalade, mas nenhum deles conseguiu a preponderância que Geny tem hoje (na última época fez 30 dos 34 jogos do campeonato). Referir que Aly Hassane e Calton Banze foram no “mesmo pacote”, mas só o primeiro ficou mais tempo. Seguiu-se Chiquinho Conde, depois de representar o Belenenses e Sporting de Braga. A posterior, Gonçalves Fumo e Paíto Mucuana tiveram o seu espaço. Aliás, destes, apenas Fumo tem o registo de campeão, sem ter feito minutos com a camisola “leonina”.

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