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DUPLO DUPLO

DA IDADE DE DOMINGUEZ AOS EQUÍVOCOS DE CHIQUINHO CONDE

Na passada quinta-feira o seleccionador nacional de futebol, Chiquinho Conde, anunciou a convocatória final dos “Mambas”para os jogos da sétima e oitava jornadas diante do Uganda, em Kampala, e Botswana, em Maputo, nos dias cinco e oito de Setembro próximo, referentes à zona africana de qualificação para o Campeonato do Mundo, a ser co-organizado pelos Estados Unidos da América, México e Canadá.

A convocatória não veio sem motivos de acalorrados debates públicos, mormente pelo facto de o “mister” Conde ter preterido dos serviços do capitão Dominguez, facto ao qual foi acrescido uma garantia por parte do técnico, segundo a qual, enquanto estiver sentado naquela cadeira de senhos, como várias vezes o disse, o atleta nunca mais seria convocado.

A razão de fundo é que, segundo treinador, depois de no passado mês de Março não ter respondido positivamente à convocatória para os jogos da quinta e sexta jornadas, diante do Uganda (3-1) e da Argélia (5-1), em que os “Mambas” ganharam e foram goleados, respectivamente, o atleta não se justificou a si, ao núcleo dos capitães, aos seus assistentes e nem tão pouco à Federação Moçambicana de Futebol.

O facto, acrescentou Chiquinho Conde, foi uma demonstração de falta de respeito que deve ser punido com o banimento da Selecção Nacional, pelo menos enquanto for seleccionador nacional.

Ora, com os factos apresentados e aqui chegados, cumpre-me emitir uma opinião sobre este episódio assente em três aspectos, nomeadamente a idade de Dominguez e o que ela significa em termos desportivos, as possíveis regras existentes na Selecção Nacional e o que considero equívocos na Comunicação de Chiquinho Conde neste caso.

1. Aos 42 anos de idade, a completar no próximo dia 13 de Novembro, Dominguez é claramente um atleta mais à porta de saída dos “Mambas” do que necessariamente uma unidade indispensável ou a investir nela para contar no futuro. A sua capacidade física tem vindo a baixar consideravelmente, cedendo ao peso da idade, mau grado o seu tempo de utilização na última campanha de qualificação para o CAN de Marrocos-2025 ter sido incrivelmente bom para a sua idade. Nos seis jogos do Grupo “I”, Dominguez foi utilizado em todos, entre 6 de Setembro e 19 de Novembro de 2024. Na estreia, a 6 de Setembro, no empate fora de casa, no Mali (1-1), Dominguez saiu do banco para jogar 26 minutos, entrando a substituir Gildo. Já em casa, a 10 de Setembro, na vitória sobre a Guiné-Bissau (2-1), foi titular e foi rendido por Pepo, depois de jogar 55 minutos. Foi novamente titular e jogou 62 minutos a 11 de Outubro, no empate em casa ante o Eswatini (1-1). Para o seu lugar entrou Pepo. Quatro dias depois e diante do mesmo adversário, fora de portas, jogou 67 minutos e, quando Pepo entrou no seu lugar, havia marcado o seu último golo pelo combinado nacional. Na única derrota na campanha, em casa contra o Mali (0-1) ,a 15 de Novembro, foi titular e foi substituído ao intervalo por Alfonso Amade. Finalmente, na vitória contra a Guiné-Bissau (2-1), a 19 de Novembro, entrou a 11 minutos do fim. Contas feitas, em 540 minutos Dominguez jogou 266 minutos, o que corresponde a 49.25% do total de tempo de utilização.

2. Chiquinho Conde diz que Dominguez não se justificou da não entrega do passaporte para os jogos diante do Uganda e Argélia nos dias 20 e 25 de Março, respectivamente, sendo essa uma das razões para não o ter chamado para os próximos compromissos. A falta de justificação decreta, para sempre, que o atleta não mais voltará aos “Mambas” enquanto o seleccionador nacional for Chiquinho Conde. Ora, a este ponto, havendo regras, percebe-se, pré-estabelecidas e segundo as quais, por exemplo, estipulam que quando um atleta não responde à convocatória a si imputado deve justicar-se nos termos em que o treinador o disse e que a penalização é não mais ser chamado novamente, então, nada há a dizer. As regras são para cumprir.

3. Todavia, considero haver um ruído ou um certo equívoco nas razões apontadas por Chiquinho Conde para “banir” Dominguez dos “Mambas” em face deste não ter justificado a não apresentação do passaporte para os já referidos jogos contra o Uganda e a Argélia. É que se essa fosse a razão de fundo para não chamar o atleta, como, aliás, o disse em viva voz na passada quinta-feira, 21 de Agosto, quando anunciou a convocatória final, então o seleccionador nacional não precisava de ter incluído o nome de Dominguez na pré-convocatória que anunciou 9 dias antes, a 12 de Agosto. O facto gerador da decisão da não convocação ocorreu em Março e, para ser pré-convocado, deve significar que havia se justificado.

Porque da análise dos factos geradores da decisão de não convocar Dominguez os mesmos não concordam, então Chiquinho Conde perdeu uma grande oportunidade para reafirmar a sua soberania na decisão sobre quem é convocado aos “Mambas” e devia ter evitado emitir um comentário depreciativo a um atleta que, em mais de 20 anos na Selecção Nacional, se dedicou acima da média e inspirou muitos jovens moçambicanos.

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